Sobre uma tal Ofélia

23 outubro 2009

" - O decoro, assim como a discreta flor que traz em seu colo, não é capaz de ocultar as palpitações de seu coração, transformando-se, isto sim, num traidor de tão ligeiras palpitações. Sua imaginação está contaminada, sua reserva silenciosa respira um amável desejo, e enquanto a complacente deusa Ocasião vier a sacudir a pequena árvore, o fruto tombará sem demora.
- E assim -- disse Aurelie -- , quando se vê abandonada, repudiada e rejeitada, quando na alma de seu desvairado amante o mais elevado vem ocupar o lugar do mais baixo, e em vez do doce cálice do amor ele lhe estende a amarga taça do sofrimento...
- Seu coração se rompe -- exclamou Wilhelm --, despedaça-se todo o arcabouço de sua vida, irrompe-lhe a morte do pai, e o belo edifício vem abaixo, de uma só vez.

Wilhelm não se dera conta da maneira expressiva com que Aurelie pronunciou as últimas palavras. Voltado que estava para a obra de arte, para sua coerência e perfeição, não podia suspeitar que sua amiga sentira um efeito em tudo diverso, nem que aquelas dramáticas imagens sombrias houvessem despertado nela uma profunda e particular dor."

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