Cores

02 outubro 2009

Quando era criança eu tinha um quarto cor-de-rosa. Uma cama cor-de-rosa enfeitada com bonecas rosas, prateleiras rosas, roupas rosas, cortinas rosas. Também tinha um tapete rosa, e fofo. Eu adorava pisar firme no tapete e deixá-lo cheio de pegadas miúdas, que me divertiam durante horas enquanto as examinava com minha lupa inevitavelmente rosa. Brincava de detetive meio que para passar o tempo, esperando por aquela hora em que todos se distrairiam e eu poderia fugir pro quintal.
No quintal eu me deitava na ardósia cinza e meus olhos observavam admirados o balé colorido que se dançava no céu. O azul e branco suaves eram o cenário, e entre o céu e meus olhos entravam e saiam de cena dragões e pégasos, que dançavam e lutavam e morriam. A trilha sonora era o tintilar de papel e plástico e o grito dos meninos nas ruas: Arrasta! Arrasta!
Eu sabia que aquele teatro só teria fim quando chegasse a noite, e o cenário de azul ficasse negro dando espaço a outra peça, menos viva e mais dramática. Mas nunca cheguei a ver o fim do espetáculo, para mim as cortinas sempre se fechavam antes, quando ferindo toda aquela magia, vinha a voz de minha mãe: Já pra dentro, menina! Quantas vezes vou ter que repetir que olhar pro céu atrás de pipa é coisa pra moleques?!

E eu voltava para o meu mundo de uma cor só...

3 respostas:

Rafael Shimoda disse...

hahaha


Parece q eu não sou o único que escreve sobre meninas solitárias!! ^^

Day disse...

Ei,
esse não é sobre solidão!

=P

Rafael Shimoda disse...

Ela não protagoniza a cena, mas está presente!

sr