A sensação de eternidade

06 outubro 2009

Quando meu olhar se elevou sobre mim. Quando num relance tudo ganhou novo sentido. Quando a culpa, a angustia, a alegria perderam seu valor. Quando tudo deixou de ter valor. Quando a terra, o sol, o céu deixaram de ser um e tornaram-se um todo. Quando eu deixei de ser um e me tornei o todo. Quando contemplei a face da existência e existiu em mim o ser, eu senti a eternidade.

***

Certo, não consegui, mas pelo menos tentei. Fiquem então com o Proust, ele conseguiu:

"(...) Como no momento em que eu saboreava a madeleine, toda a inquietação acerca do futuro e toda a dúvida intelectual se haviam dissipado. As que ainda há pouco me assaltavam a respeito da realidade de meus dotes literários, e até da realidade da literatura, tinham desaparecido como por encanto.
Sem que tivesse feito qualquer novo raciocínio, ou encontrado algum argumento decisivo, as dificuldades, insolúveis há pouco, tinham perdido toda importância."

[Proust; O tempo recuperado]

***

A sensação de eternidade sempre nos toma de assalto. Ela virá novamente, e eu espero ansiosa.

6 respostas:

Lorena disse...

É o "estado de graça" descrito pela Clarice Lispector.

Você provavelmente se interessaria por Clarice Lispector.

Day disse...

Eu provavelmente me interessaria se tivesse lido algo mais do que o conto da Esperança... Nunca li Clarice Lispector.

Mas me diga aí onde tá essa descrição do "estado de graça" que eu caço e leio.

Eu realmente busco saber mais sobre a sensação de eternidade.

L.M. disse...

O estado de graça é uma espécie jargão lispectoriano. Consigo pensar em pelo menos três romances dela em que ele aparece e sei que também existe escrito em crônica.

Quando eu pegar de volta "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres", você lerá.

Rafael Shimoda disse...

Day, prefiro seu texto ao do Prust. Talvez por se aproximar mais do que seria um texto meu sobre a eternidade, na verdade seria basicamente o mesmo!

Lembra do texto "Uno", foi uma forma de dizer o mesmo que foi dito aqui!

Isso não me lembrou Clarime, também nunca ali, mas lembrou-me Sartre, já leu A Náusea?? Vale a pena! ;)

Day disse...

Pô, Rafa. Valeu por achar o meu texto mais legal do que o do Proust! (e por achar o seu por tabela tb)

=P

Day disse...

Nunca li Náusea.

Se eu ler Sartre vai ser só quando eu ficar grandinha.

=P